Ontem me veio esta frase na cabeça: "Flertamos com o infinito".
Sou Rejane Arruda, idealizadora do projeto "Escola de Fotógrafos Cegos" junto com o coletivo Cia Poéticas da Cena Contemporânea. Quero começar dizendo que Julio, Alberto, Fagner, Yasmin e Ana Paula tem parte ativa nesta construção, assim como Manoel, Elias, Maycon, Jonatas, Maria, Alice, Geovana, Sayonara, Cinthya, Kéllezy, Fadini e Jarlison nossos queridos alunos fotógrafos-cegos.
"Flertamos com o infinito" pois é incrivelmente belo lidar com o que parece ser da ordem do impossível. Nos questionam "Como assim?". É o "Como" que estamos construindo juntos. Este coletivo da Escola de Fotógrafos Cegos, professores e alunos juntos, desenvolvendo uma metodologia nova.
São alguns termos-chave para a prática se organizar e adianto de pronto que são: elemento atrapalhador, duplo-enquadramento, operadores estéticos, noção de profundidade, botão para gerar desfoque, desfoque como objeto, fotografar é congelar objetos e colocar dentro da janela, lei do movimento mínimo, sistematizar a percepção de distância.
Tem também os termos que "colho" (lembro-me agora de Ignez Vardà e digo "cato") em Charlotte Cotton, e com os quais sistematizamos os módulos desta primeira proposição: "Alguma Coisa e Nada", "Inexpressivas", "Era uma vez", "Revivido e Refeito", "Físico e Material", "Dispositivo".
São módulos que nos servem por apontarem a perspectiva de modulações do olhar em suas variantes estéticas. Coisas tão diferentes, Cotton consegue unir em uma modalidade. Como? É o exercício de síntese que exerço quando proponho uma tematização do olhar para esta escola: interrogar o olhar, desconstruir o olhar, desafiar o olhar, investigar os limites do olhar (e das formas).
Trabalho com cegos porque eles trazem contribuições para a poética contemporânea; e porque são extremamente potentes. Encontro no olhar que é deles um contraponto à ilusão de "ver tudo" do "vidente" (para quem não é familiarizado com o termo este é o modo como nós que enxergamos somos chamados pelos cegos).
Para quem não é familiarizado, o termo "cego" é justo e não tem problema algum chamar alguém assim. "Cego", assim como "surdo", é um termo justo - e político na medida em que se reconhece a cegueira e a surdez, para então passar às políticas necessárias à inclusão.
É claro que a inclusão está em questão. Mas também a contribuição que estas pessoas, com a sua absoluta potência, podem trazer às poéticas contemporâneas, seja no Teatro, Cinema, Fotografia e Vídeo (os campos que atuamos no coletivo Poéticas).
Fico hoje por aqui.
Tive o gatilho de começar a escrever este blogue devido à saída fotográfica que realizamos no Hospital Infantil de Vila Velha na semana passada.
Somos imensamente gratos. Fica aí uma "palhinha" dos cliques de nossos alunos.
Não esqueçam de acompanhar o nosso instagram @escoladefotografoscegos.
Logo postarei mais. Este é um formato onde posso discorrer livremente, dividindo os meus pensamentos.
Beijos,
Rejane Arruda.
Rejane, seu trabalho é de uma ordem intrinsecamente trascendental. Parabenizo a você e aos envolvidos neste lindo Projeto e coloco-me à disposição no que for preciso para contribuir. Sou fotógrafa, artista visual e estou concluindo jornalismo, posso contribuir de varias formas.